20 agosto 2005

331 a 340 (picolé a tempo)

331 - picolé
Tião vende sorvete e vive rodeado pela meninada. Gosta de oferecer seu picolé é quando algum dos pequenos clientes vem acompanhado da empregada.

332 – varal
As roupas penduradas no varal ganharam vida durante o vendaval. Pularam para o vizinho. Depois, extenuadas da aventura, descansaram caídas no quintal.

333 - tribunal
No tribunal, acusado de gerontofagia, assumiu sua culpa; mas, ante a suspeita de pedofilia, declarou-se inocente o lobo mau.

334 - xadrez
O cavalo comeu a rainha, o bispo foi comido pelo peão. Ao ver tamanha depravação, dona Eulália proibiu o neto de continuar a jogar xadrez.

335 - quadris
Na varanda da vizinha, as calcinhas postas para secar ao vento agitavam-se como se fossem movidas pelos quadris de sua dona.

336 - insônia
Latidos ao longe, na madrugada, eram a única companhia que ele tinha naquela noite de insônia, na cama gelada.

337 - lareira
O crepitar da lenha na lareira não era alto o suficiente para abafar os gemidos e murmúrios dos dois corpos nus que se enroscavam no chão da sala.

338 - bailarina
Sem ninguém para lhe dar corda, numa eterna pose, a bailarina da caixa de música foi envelhecendo, coberta de pó, num canto esquecido de um armário.

339 - amanhecer
O galo canta ao amanhecer, avisando o amante da mulher do guarda-noturno que é hora de se vestir e correr.

340 - tempo
O casal de viajantes do tempo brigou feio. Separaram-se. Ela foi para antes de ele nascer; ele para depois de ela morrer.
Microcontos de Carlos Seabra - http://seabra.com/microcontos

Blogger Laís Sartori said...

Bailarina é lindo demais!

3/8/09 16:24  
Blogger Rosane Vilaronga said...

Se o tempo os separou, ela antes dele e ele depois dela,se encontraram entre a vida e a morte, numa viela...
Adorei!

24/3/10 10:02  

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