22 junho 2005

241 a 250 (lucidez a pouco)

241
Quando Otacílio olhou pela janela do avião e viu sua avó sentada na asa a fazer tricô, teve um último lampejo de lucidez e soube que estava louco.

242
Casa de ferreiro, espeto de pau - desculpava-se o carrasco perante sua mulher ao se recusar a esmagar aquela barata na cozinha.

243
O cérebro havia encolhido, apontava o encefalograma do escritor de microcontos.

244
Quando criança, era sempre o último na chamada escolar. Superado o trauma, virou herói e passou a assinar sua inicial com a ponta da espada.

245
Por centenas de anos mantiveram o culto secreto. Agora reconhecido e oficializado, começaram a perder a fé.

246
Como é que podiam chamar as residências de imóveis? - perguntava-se a tartaruga, ao ler as notícias do sistema habitacional.

247
O soutien dançando, a calcinha apertando os bagos. Ai, minha amiga, às vezes não é nada fácil esta vida de drag queen!

248
No meio da cerimônia do chá, o monge soltou um sonoro e inadequado peido. Por muito menos, seu avô tinha feito harakiri.

249
O homem da mala ia de gabinete em gabinete, tratando os deputados como se fossem flores, fertilizadas pelo pólen da corrupção.

250
Depois que ela partiu ele achou que havia morrido um pouco. Mas estava enganado, pois pouco era muito pouco...
Microcontos de Carlos Seabra - http://seabra.com/microcontos

Postar um comentário

<< Voltar para a página inicial