03 julho 2005

271 a 280 (suicídio a esquerda)

271
Sorri, amor - pediu ela. Já arrependido do pacto de suicídio, ele foi incapaz de satisfazer esse seu último desejo.

272
Doutor Ortega era um homem muito sisudo, jamais sorrira em toda a vida. Ao dar a primeira gargalhada, não parou mais, até ser internado pela família.

273
Enojado com o que viu, renunciou ao cargo e abandonou a capital federal. Sem olhar para trás, com medo de virar estátua de sal.

274
Ao ver uma aeromoça, sentia o maior tesão. Até hoje sua mulher não entende por que ele insiste em fazer sexo na poltrona, fingindo estar num avião.

275
Ela pediu: larga do meu pé! E, ali pendurada, ficou vendo o corpo dele afastar-se, caindo no despenhadeiro.

276
Tio Nanias era um palhaço. No boteco, os amigos riam com ele. Mas no circo onde trabalhava ninguém achou graça quando ele foi promovido a gerente.

277
O homem-avestruz era muito recursivo. Ele mesmo criava em sua cabeça os buracos onde a enfiava.

278
Pegou a mala errada no aeroporto. Apaixonou-se perdidamente pelo perfume das roupas que ali estavam e até hoje tenta achar a quem pertencem.

279
Ele era tão cheio de minúcias que nem os menos chegados lhe perguntavam mais como estava.

280
Ele era de esquerda. Era. Agora está no poder. Está.
Microcontos de Carlos Seabra - http://seabra.com/microcontos

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