03 junho 2005

181 a 190 (onanista a quimioterapia)

181
O jovem onanista era hábil em navegar pelos websites e salas de chat com uma só mão no teclado.

182
Ele nunca errava. Ao contrário, sempre tinha ótimas e detalhadas explicações para suas maiores cagadas.

183
Alfredo era, há muitos anos, um convicto vegetariano. Mas, ao ver aquelas carnes abundantes e suculentas rebolando, ficou com a boca cheia de água.

184
Há muito tempo não precisava mais usá-la, mas a bengala tornara-se parte integrante da sua personalidade.

185
Era um bom cliente do bistrô. Pena que, acompanhando o vinho, quase só consumia guardanapos de papel, onde escrevia pequenos contos sem parar.

186
Era um sósia tão perfeito de si mesmo que nem sua mulher percebia quando cometia adultério com ele.

187
Os vizinhos reclamavam, os cachorros corriam atrás, mas o velho piloto aposentado do oitavo andar continuava a soltar seus aviões de papel.

188
Noite e silêncio. A luz amarela do poste recorta a sombra de uma árvore na calçada. Suas folhas se mexem, agitadas por duas silhuetas nela encaixadas.

189
Os homens da mudança chegaram com o caminhão e encaixotaram tudo o que ela juntara durante a vida, cada pedacinho de si mesma.

190
Com a quimioterapia, seu cabelo havia caído quase todo. Agora, com a luta vencida, deixou crescer cabelo e barba como um velho hippie.
Microcontos de Carlos Seabra - http://seabra.com/microcontos

Postar um comentário

<< Voltar para a página inicial