02 janeiro 2005

91 a 100 (ceguinho a colesterol)

091
O maior fetiche do ceguinho tarado era poder ser voyeur.

092
No meio do combate ao crime internacional, o agente secreto teve que parar tudo e obedecer o comando de sua mãe para jantar.

093
De tanto aplicar multas, o guarda de trânsito adquiriu uma lesão de esforço repetitivo.

094
O velho general, na cama, sonhava com todas as guerras que nunca travara mas para as quais toda a vida se preparara.

095
Apague a luz, pediu ela. Me dá um beijo, ele pediu. E para todo o resto não precisaram de mais palavras.

096
No feriado prolongado a cidade vazia estava tão calma como uma aldeia na hora da sesta.

097
Ela recebeu um buquê de rosas. Um espinho perdido tirou-lhe uma gota de sangue, que se escondeu vermelha entre as pétalas.

098
No leito seco do rio, tristes pescadores sem sustento. Mas o choro das nuvens, compadecidas, lhes traz novo alento.

099
Ela era negra e ele judeu. Ela era católica e ele ateu. Ele engordou e ela emagreceu.

100
O colesterol não lhe deixava comer queijos, o diabetes lhe proibia os doces. Ainda bem que trepar não tinha restrições!
Microcontos de Carlos Seabra - http://seabra.com/microcontos

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