28 dezembro 2004

61 a 70 (alieníenas a incêndio)

061
Os habitantes daquele planeta iam a templos, que eram salas escuras, carregando pipocas e refrigerantes para suas oferendas.

062
O náufrago na ilha deserta agora só tinha os olhos no céu, onde as nuvens desenhavam tudo o que ele precisava.

063
Na noite da cidade, as janelas acesas e apagadas dos prédios formavam códigos ainda não decifrados.

064
A múmia saiu de seu sarcófago e, atravessando a tela do cinema, colocou a todos em alucinada fuga.

065
Nas férias, a chuva no asfalto duplicava a cidade, o céu e seus prédios, refletidos nas ruas molhadas sem trânsito.

066
Era um amor proibido. Ela era histérica e ele deprimido.

067
A natureza odeia o vácuo. Coitada daquela gorda bunda, que ficou presa pela sucção na privada do avião.

068
O assunto do bairro todo naquela semana era o casamento do padre com o travesti.

069
Pela última vez, escreveu seu nome na orla da praia e ficou vendo as ondas o apagarem para sempre.

070
As chamas queimaram tudo. Nos escombros do prédio, aquela privada, branca e reluzente, não fazia o menor sentido.
Microcontos de Carlos Seabra - http://seabra.com/microcontos

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