23 dezembro 2004

41 a 50 (confissão a árvores)

041
Ela era tão provocativa que quando foi se confessar quem teve que rezar muitas ave-marias foi o padre.

042
O gato dormia no tapete da sala, aproveitando a calma da casa antes de darem pela falta do peixinho no aquário.

043
A bofetada deixou-lhe a marca dos dedos na face. Ao pensar em lhe pedir desculpas, desejou sentir novamente aquela mão em sua cara.

044
Um mendigo atropelado na beira da estrada. Os carros se desviam o suficiente para não sujarem os pneus com sangue.

045
Nem a ciência explicava como ele era tão fanho quando administrava e tão bem falante quando fornicava.

046
Ele sonhou que era um soldado americano. Ao acordar, o pesadelo era muito pior. Ele era um prisioneiro em Guantánamo.

047
A boneca caída no chão era a única habitante daquela aldeia destruída.

048
Ela estava calada e seu olhar absorto nada dizia, mas na fumaça do cigarro desenhavam-se os seus pensamentos.

049
O galo de briga perdeu os dois olhos. Assim, não pôde ver seu dono sorrindo com o dinheiro ganho na luta.

050
As árvores passavam céleres pela janela do trem mas seu olhar nada via, parado onde embarcara.
Microcontos de Carlos Seabra - http://seabra.com/microcontos

Postar um comentário

<< Voltar para a página inicial