21 dezembro 2004

21 a 30 (assalto a parque)

021
Foi assaltado na esquina. Ao esvaziar os bolsos, aquela fotografia caiu ao chão. O ladrão ao vê-la caiu em prantos.

022
A cada tijolo que ele colocava, os muros ficavam mais altos. Mal sabia ele que ali seria o presídio para onde mandariam seu filho.

023
Seu relógio marcava sempre a mesma hora e ele nunca o acertava. O instante da morte dela era o momento eterno onde ele também deixara de viver.

024
Era uma vez uma formiga que ficou desempregada. Quando aprendeu a tocar violão com a cigarra percebeu que ainda tinha toda a vida pela frente.

025
As senhoras jogavam baralho com tanto entusiasmo que não perceberam quando o marido de uma delas se jogou pela janela do apartamento.

026
A velha nunca deveria ter tirado a dentadura na frente do netinho. A partir daquele dia ele tinha mais medo da avó do que dos monstros da TV.

027
Ele foi para o governo e foi atacado por um tipo de amnésia que o fez esquecer de todos os amigos e compromissos antigos.

028
Ela se desesperou ao perceber que a mala não chegara no desembarque, sem saber ainda que esse atraso salvou sua vida.

029
Todas as noites ela sonha com tudo o que não ousa nem pensar durante o dia. Às vezes não consegue dormir. Certa manhã não se dá conta que acordou.

030
O parque fechou para reparos. Era ali seu refúgio quando apanhava do marido. Na primeira vez que ele encheu a cara, teve que matá-lo.
Microcontos de Carlos Seabra - http://seabra.com/microcontos

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