20 dezembro 2004

11 a 20 (novela a embaixador)

011
Todo o dia ela assistia a novela. A cada capítulo se apaixonava mais pelo ator. Quando este se casou com a heroína, ela resolveu dar para o vizinho.

012
Juquinha era o mais mal-comportado da classe. Ele fazia de tudo para ser castigado, só para ficar mais tempo com a professora.

013
Matou todos no cinema e voltou para casa ainda a tempo de dar o leite quente e o remédio à sua velha avó.

014
Ele soube que ela tinha outro quando a comida dela deixou de ser a gororoba de sempre. Mas calou-se e engordou.

015
Dom Quixote do asfalto ataca semáforos de vento para resgatar Dulcinéia do congestionamento.

016
O jornal estampava na manchete como a economia ia bem. Debaixo dele, o mendigo que abrigava dormia, agora despreocupado.

017
O garotinho estava correndo e bateu com a cabeça. Teve que levar três pontos, mas só berrou mesmo foi na hora da anestesia.

018
O movimento de tropas não deixava mais dúvidas a respeito da guerra que se iniciava. Mas seu maior problema no momento era cortar aquele bife duro.

019
O torturador não conseguia dormir com os gritos e gemidos de suas vítimas, dubladas pelos pernilongos invisíveis que habitavam sua noite.

020
Ao sorver o primeiro gole de café, a xícara quase lhe caiu das mãos, a boca e garganta queimadas contiveram um grito. Então o embaixador sorriu.
Microcontos de Carlos Seabra - http://seabra.com/microcontos

Postar um comentário

<< Voltar para a página inicial